Quando eu tinha 8 anos, eu estava a brincar no quintal enquanto a minha mãe preparava a refeição. É difícil para quem nunca foi a África entender, mas quem viveu na África sabe que a refeição é confecionada ao ar livre com fogão a brasa ou fogo de lenha.

No meu quintal tinha muitos limoeiros,  às vezes fazia muito vento e as ramas partiam-se, então nós cortávamos um pedaço de madeira de mais ou menos 3 metros, onde o topo era de formato de um “v” para encaixar nas ramas caídas e levantar. Chamávamos esse pedaço de madeira de forquilha.

A forquilha ficava a aguentar as ramas do limoeiro durante anos, até secar e quebrar

A minha mãe estava a cozinhar e eu estava a brincar de pendurar na forquilha. Ela me chamou atenção pela primeira vez, eu parei uns segundos, mas depois voltei a perdurar.

Ela me chamou atenção pela segunda vez e disse “essa forquilha vai quebrar e você vai cair” (porque a forquilha estava seca).

Eu parei durante cerca de dois minutos e voltei a pendurar, a forquilha quebrou e eu caí. A minha mãe disse “Bem feito, eu te disse que você ia cair, quem não ouve, vê.”

“Quem não ouve, vê” uma frase que nunca me saiu da cabeça.

Minha mãe me avisou que eu ia cair duas vezes, e em nenhum momento eu pensei em parar de pendurar na forquilha. Eu era criança, tinha 8 anos, mas existem certos comportamentos que nunca deixamos de ter, e esse é um deles.

Existem duas formas de aprender uma lição, da forma difícil e da forma muito difícil. Deus sempre nos dá a oportunidade de aprender da forma difícil, mas nós escolhemos a forma muito difícil.

Pensa em na lição mais difícil da sua vida, quantas vezes Deus não te deu a oportunidade de aprender a mesma lição de uma forma menos trágica?

A minha então ex namorada era uma boa mulher. Até onde eu sei. Cuidava bem de mim e fazia tudo que uma mulher deve fazer para um homem. É claro que ela tinha alguns comportamentos não tão positivos, mas ninguém é perfeito.

Quando nós estávamos a namorar eu sempre ouvia conselho de que, quando encontrar uma boa mulher para valorizar, porque quando ela decide ir embora, o arrependimento é muito grande.

Eu ouvia esse conselho em músicas, na conversa com os meus amigos, e eu sempre concordava, e dizia que era verdade.

Pode ser por causa de uma característica minha de tomar responsabilidade por tudo que acontece na minha vida, mas eu acho que fui responsável pelo fim do relacionamento, porque de um modo geral eu não dei o tratamento que ela merecia.

Mesmo depois de ouvir várias vezes que eu devia valorizar a boa mulher que estava na minha vida, eu só aprendi essa lição verdadeiramente quando ela foi embora e nunca mais voltou.

A pior parte é que nós terminamos duas vezes, da terceira vez ela foi de vez. Terminamos a primeira vez, eu conversei com ela e nos reconciliamos. Terminamos segunda vez, eu voltei a conversar com ela e dei a minha palavra de que dessa vez iria ser diferente, mas eu voltei a ter os mesmos comportamentos. Terminamos a terceira vez, e foi a última.

Eu tive a chance de aprender a valorizá-la duas vezes, mas eu escolhi a forma muito difícil.

Ontem eu estava a ler a bíblia e encontrei um verso que me inspirou a escrever sobre isso, e dizia o seguinte: “O servo não se emendará com palavras, ainda que te entenda, não te entenderá” (Provérbios 29:19)

Eu não sei se a verdadeira interpretação deste verso é aquela que estou a fazer nesse contexto, mas foi daí que surgiu a ideia.

Por mais que tentamos ensinar lições de vidas ou passar as nossas experiências a outras pessoas, eu acho que elas só aprendem quando passarem pela experiência. De alguma forma isso faz parte da natureza humana.

No outro dia eu estava a assistir “The King’s Man: O Início”, o pai de conrad Oxford que é um dos personagens do filme, fez de tudo para evitar que o filho fosse a guerra, porque sabia o quão difícil e dramático era essa experiência, mas mesmo assim ele insistiu em ir e até mentiu para conseguir entrar no exército, mesmo depois de toda a insistência do pai.

Ele foi à Guerra e descobriu que a experiência era exatamente como o seu pai lhe tinha dito. Ele até confessou que o pai tinha razão depois de ver a morte com os próprios olhos. Infelizmente ele não teve oportunidade de voltar para casa, ele morreu na Guerra.

Existem diversas consequências para as pessoas que não se emendam com palavras, no meu caso, a forquilha quebrou e eu caí, no caso de Conrad ele foi a guerra e perdeu a vida.

Como dizia a minha mãe “Quem não ouve, vê”. Quem já assistiu o filme sabe o quanto o pai do Conrad tentou impedir que ele entrasse no exército, ele só realizou as consequências depois de entrar no exército e ir a guerra.

Eu estou a dar exemplo de um filme, mas eu tenho certeza absoluta que existem inúmeros exemplos que acontecem na vida real, em que uma pessoa próxima ou mais experiente diz para não fazer alguma coisa, e quando se faz, resulta em tragédia.

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