Eu me considero uma pessoa boa. Sou generoso, simpático e trato bem as pessoas. Não é muito comum fazermos a avaliação de nós próprios, mas durante as interações que tive ao longo da minha vida, nunca me acusaram de ter uma personalidade negativa.
O mundo tem um padrão que diferencia pessoas boas de pessoas más. Esses padrões são conjunto de características que são consideradas positivas ou negativas. Mas será que nós podemos considerar uma pessoa má por causa das características que a sociedade decidiu que é negativa?
Talvez essa pergunta não faça sentido, porque foi formulada por mim, e para ser sincero, nem mesmo eu acredito nela. É simplesmente a minha tentativa de questionar uma ideologia estabelecida.
Talvez a pergunta só não faça sentido porque eu já estou programado para pensar de uma certa forma que beneficia a teoria estabelecida sobre o valores das características humanas.
Uma pessoa que age por interesse próprio é considerada egoísta, que segundo os padrões da ideologia estabelecida pela sociedade é uma característica negativa. A pessoa só está a pensar no seu bem estar e na sua proteção, isso é negativo? Porquê pensar nos outros sendo que nascemos sozinhos e não devemos nada a ninguém além das pessoas que nos colocou neste mundo e das pessoas que escolhemos para ser nossa família?
Escolher o egoísmo como fator de questionamento talvez não seja a escolha mais sensata, porque eu acredito que todos nós devemos ter um certo nível de egoísmo, não podemos pensar nas outras pessoas o tempo todo.
Mas agora surge uma pergunta muito interessante: Qual é o nível certo de egoísmo que uma pessoa deve ter para ser caracterizado como uma pessoa egoísta boa?
Qual é a linha que não deve ser ultrapassada caso contrário a pessoa passa a ser considerada um egoísta mau?
Obviamente essas duas questões surgiram por causa da minha opinião, então acho justo que seja eu a responder a pergunta.
Eu acredito que a linha que separa egoísta bom do mau é a intenção. Existem pessoas que agem de forma maldosa com objetivo de magoar as outras pessoas pelo proveito próprio, eu acho que essa é a linha que não deve ser ultrapassada.
Todo mundo pode praticar ações que sejam benéficas para si próprio, mas essas ações não podem interferir negativamente de uma forma direta ou indireta na vida das outras pessoas.
Esta é a minha opinião, eu entendo que possa existir pessoas que tenham uma perspectiva diferente da minha.
Apesar de eu me considerar uma pessoa boa, às vezes eu sinto que existe algo muito sombrio dentro de mim, com quase todas as características negativas possíveis. Egoísta, maldoso, arrogante, que se sente superior às outras pessoas, que gosta de julgar as outras pessoas, dissimulado, narcisista, maquiavélico e psicopatico.
E às vezes parece que é uma coisa que eu tenho de está sempre a controlar, porque essa não é a pessoa que eu sou. Mas as vezes eu tenho muito medo de me transformar naquela pessoa
Eu às vezes penso se aquela não é a pessoa que eu realmente sou. É muito assustador.
E eu às vezes me questiono se o que está a segurar essa pessoa não são os princípios religiosos que aprendi desde criança.
Eu venho pensando nisso nos últimos dias e cheguei a uma conclusão muito interessante: Existe oposição para tudo que existe no universo. Eu sei que essa é uma afirmação muito abrangente, mas eu genuinamente acredito nisso.
Se não houver oposição entre duas coisas ela não existe isoladamente. Só existe terra e outros planetas porque existe um espaço vazio; Só existe a vida porque existe a morte; Só existe “acordar” porque existe “dormir”; Só existe quente porque existe o frio. Eu poderia escrever mais de 50 páginas de coisas que só existem por causa da sua oposição.
Nós só estamos vivos porque o nosso coração está constantemente a variar entre duas oposição: o movimento e a estagnação.
O nosso cérebro está dividido em duas partes, e não seremos completamente normais se apenas uma delas estiver a funcionar.
Para trazer uma vida ao mundo, é preciso duas pessoas do sexo oposto.
Nós temos dois pulmões, duas mãos, dois pés, nós podemos fazer algumas coisas com apenas um desses membros, mas não ia ser de forma natural. Tudo está desenhado para funcionar perfeitamente.
Eu acredito que essa parte sombria que existe dentro de mim faz parte da dualidade que existem em praticamente tudo que existe no universo. Eu posso não ser aquela pessoa, mas aquela pessoa tem de existir para me lembrar constantemente da pessoa que eu não quero ser.
Existem pessoas que são a pessoa que eu não quero ser, e eu as vezes me pergunto se elas têm a outra parte que é a pessoa que eu sou, e como é que elas reagem a essa pessoa, será que elas dizem que a pessoa que eu sou é a pessoa que elas não querem ser?
Ou elas nem pensam sobre isso e simplesmente são do jeito que são sem existir nenhuma oposição?
O que eu acho é que algumas características que são consideradas negativas são tão fortes que os impedem de ver a oposição.
Eu não sei se já escrevi sobre as características dos dois lados do cérebro, mas como eu disse anteriormente o nosso cérebro está dividido em duas partes e cada parte é representada por características distintas. O lado esquerdo é considerado o lado racional e assertivo e o lado direito é considerado o lado emocional e imaginativo.(Resumidamente)
Muitas pessoas consideram o esquerdo como arquétipo masculino e o lado direito como arquétipo feminino, até um certo ponto todos utilizam as duas partes do cérebro, mas existe uma que é dominante.
E o que eu estava a pensar é que as pessoas que têm o lado esquerdo do cérebro como dominante são pessoas com uma mentalidade muito definida sobre as coisas, eles tendem a tomar decisões racionalmente, e se decidirem que está é certo, é porque está certo, eles não têm essa capacidade de abrir para diferentes perspectivas.
Isso é bom até um certo ponto, mas como eu disse temos de encontrar balanço entre as duas partes do cérebro, caso contrário nos tornaremos em robôs, eu afundamos na nossa própria loucura.
Quem acredita em tudo, não acredita em nada. Quem não considera novas perspectivas não evolui.
O cérebro humano é maleável, dizer que o lado esquerdo é do arquétipo masculino e o lado direito é do arquétipo feminino é acreditar no mundo preto e branco. Eu já vi mulheres extremamente racionais e convictas, e também já vi homens extremamente racionais e convictos. Eu já vi mulheres emocionais e também já vi homens emocionais.
Uma ideia que eu desenvolvi e acredito genuinamente é que até um certo ponto todos nós nascemos com algo a ser corrigido, e essa é a nossa batalha durante o tempo que vivemos.
Essa polarização do arquétipo feminino e masculino é necessária, porque como estivemos a ver, a ideia principal deste capítulo é a oposição. Não pode existir uma sociedade em que homens e mulheres podem ser emocionais ou racionais, caso contrário deixaria de haver oposição, e como eu disse anteriormente, para uma coisa existir e fazer sentido é preciso existir o seu lado oposto.
Existem homens que são emocionais, o que eles devem fazer? Como disse, todos nós nascemos com algo que precisa ser corrigido e o cérebro humano é maleável, o trabalho desse é homem é no mínimo aprender a encontrar o equilíbrio entre a razão e a emoção e saber aplicar cada um as devidas circunstâncias.
O mesmo acontece com mulheres que têm o lado esquerdo do cérebro dominante, a batalha dela é encontrar equilíbrio entre a razão e emoção.
O tempo vai revelar a pessoa que eu realmente sou, eu acredito que daqui a alguns anos eu não serei a mesma pessoa que sou hoje, as experiências de vida, o ambiente, as pessoas à minha volta provavelmente irão mudar a minha maneira de ser e de pensar.
Posto isto, eu acho insensato preocupar com essa suposta pessoa maldosa que existe dentro de mim, porque se eu tiver que me tornar nessa pessoa, isso vai acontecer.
Isso contradiz a outra das minhas crenças de que nós somos o resultado da escolha que fazemos, isso levaria a discussão sobre o livre arbítrio e a predestinação, um tema muito difícil de ser debatido no contexto filosófico. Eu vou falar sobre isso na próxima Letter.