Carros desportivos de luxo na garagem, uma grande mansão rodeada por um jardim coberto de flores raras, a pouca distância da praia. Uma mulher bonita e sexy, com seis filhos maravilhosos e inteligentes. Um corpo fisicamente forte, saúde impecável, boa relação com Deus e com os familiares.
Milhões na conta, o suficiente para nunca mais precisar trabalhar na vida. Liberdade para viajar a qualquer parte do mundo a qualquer momento.
E, no topo de tudo isso, ter apenas 28 anos de idade — com energia suficiente para ainda aproveitar o melhor da vida.
Acho que esse seria o cenário de uma vida perfeita. E, mesmo assim, tenho certeza de que, na minha tentativa de descrevê-la, ainda há alguma imperfeição — porque sempre falta alguma coisa.
Hoje fui organizar uma festa de aniversário na casa de um cliente. O Sérgio completou 50 anos.
Sérgio tinha uma esposa, dois filhos e uma grande casa. À primeira vista, não parecia ser uma pessoa muito feliz — parecia até um pouco frustrado, pela forma como respondia aos pais e à esposa.
Era admirável o tamanho da casa dele, que parecia ter sido construída recentemente. Provavelmente ele conseguiu um empréstimo no banco, que irá pagar até à reforma.
Pelo seu perfil, Sérgio parecia ser uma pessoa com um trabalho estável. A esposa também devia trabalhar. Provavelmente estão a pagar a casa juntos.
Com um trabalho desses, devem ter férias algumas vezes por ano. Os filhos são adolescentes, provavelmente estão a estudar. O carro era um Ford. Pela minha análise, Sérgio pertence à classe média. Não é rico, mas tem uma vida razoável.
Depois de toda essa análise, pensei: será esta a vida perfeita?
À primeira vista, pode até parecer. Mas, para quem entende como a vida funciona, sabe que não é bem assim.
Sérgio provavelmente foi à universidade, tirou um curso, bebia cerveja com os colegas, saía à noite e talvez tenha conhecido a sua mulher nessa mesma altura. Começaram a namorar, mais tarde tiveram filhos.
Ou seja, Sérgio fez exatamente o que a sociedade diz que devemos fazer.
Quando estávamos a cantar os parabéns, ele tentou beijar a esposa — mas, de alguma forma, ela não quis. Durante as nove horas que passei lá, eles não pareciam ser um casal muito próximo. Talvez ela já esteja cansada dele… ou talvez seja só coisa da minha cabeça.
Quando vi Sérgio pela primeira vez, ele parecia um homem sério, que sabia exatamente o que estava a fazer da vida. Mas, depois de uns copos de álcool, a sua verdadeira personalidade começou a surgir. E cheguei à conclusão de que ele é o tipo de pessoa que facilmente compraria ações do Jordan Belfort.
Depois de passar algumas horas lá, comecei a conhecer por dentro a vida do Sérgio. E, então, a minha pergunta inicial já tinha resposta: aquela não era a vida perfeita.
ENTÃO, QUAL É?
Sérgio parecia claramente assustado por estar a completar 50 anos — isso ficou evidente no seu discurso de agradecimento.
Sem falar do empréstimo da casa que ainda tem de pagar, das coisas que nunca fez por causa do trabalho, do potencial que talvez nunca tenha explorado, das experiências que talvez nunca tenha vivido… talvez até de outras mulheres que nunca conheceu.
Agora, o tempo já passou. Ele está preso numa casa grande, com uma mulher que talvez já não o suporte, dois filhos e um empréstimo para pagar.
Ter filhos é bom. Criar estabilidade para eles também é bom.
Mas… e os sonhos do Sérgio?
As coisas que ele realmente gostaria de fazer?
Sérgio podia ser rico, ter milhões na conta — assim, não estaria preso a pagar empréstimos por 40 anos. Mas talvez, se tivesse essa riqueza desde cedo, nunca tivesse tido as experiências que viveu com os amigos na universidade. Talvez nunca tivesse conhecido a mulher que o ajudou a construir a vida que tem.
Então… esse também não seria o cenário da vida perfeita.
Sérgio podia ter decidido não se prender a um trabalho estável. Podia ter explorado mais as suas curiosidades, viajado o mundo, conhecido novas culturas — ele e a mulher.
Mas, nesse caso, talvez nunca tivesse conseguido o financiamento da casa grande. Talvez estivesse hoje a viver de aluguer, numa casa pequena, sem deixar nada para os filhos.
Então… esse também não seria o cenário da vida perfeita.
Ele podia ter tido várias mulheres, mas talvez não passasse tempo com os filhos.
Podia ter escolhido uma vida mais simples, mas talvez nunca tivesse sentido o orgulho de conquistar algo grande.
Poderia ter seguido uma carreira artística — talvez ter-se tornado um escritor, palestrante, ou até ator —, mas, nesse caso, talvez nunca tivesse tido tempo para construir uma relação sólida ou ter filhos.
Não importa o número de combinações que criemos para tentar desenhar um cenário perfeito para o Sérgio — é literalmente impossível encontrar um em que ele tenha tudo ao mesmo tempo.
E essa é a resposta para a pergunta: talvez até exista um cenário ideal de vida perfeita…
Mas é impossível aplicá-lo à realidade.
A realidade exige sacrifícios. Sacrificamos uma coisa para ter outra.
Cada pessoa constrói a própria realidade com base no que acredita ser mais importante — ou com base no que a sociedade diz que é importante.
Sérgio pode não ter uma vida perfeita.
Mas adivinha?
Ninguém tem.
Desde cedo, precisamos decidir o que estamos dispostos a sacrificar — o presente pelo futuro, ou o futuro pelo presente.
E não importa qual caminho escolhemos ou que decisão tomamos: sempre vamos pensar que podíamos ter feito melhor… ou que, se tivéssemos escolhido diferente, a nossa vida seria melhor.